Síria, Iêmen e Afeganistão: confira as guerras que foram ofuscadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia
De acordo com o Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados, existem pelo menos 28 confrontos ativos em 2022

O conflito entre RússiaeUcrânianão é o único que acontece na atualidade. Apesar deste ser o que está sendo mais repercutido no momento, existem outros que também estão deixando dezenas de mortos, feridos e refugiados. Kai Enno Lehmann, professor associado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), explica que trata-se de “conflitos de baixa intensidade”, e o mesmo pode acontecer com a guerra da Ucrânia se ela deixar a atenção pública. “Para Zelensky, é importante que o conflito continue na consciência pública mundial por muito tempo”. Caso contrário, será mais um que ficará de lado.
A repercussão em relação a esse conflito fez com que gerasse uma dúvida sobre o porquê dele estar tendo tanta visibilidade em relação a outros que já duram anos. Leonardo Paz, analista de inteligência da Fundação Getúlio Vargas, explica que “o que acontece na EuropaeEstados Unidos tem mais visibilidade do que no resto do mundo ocidental”. Ele cita o caso da crise dos refugiados e diz que só quando o problema chegou em solo europeu passou a ser considerado um problema. O cientista político Leandro Consentino ressalta que esses dois locais são o “coração do mundo”, por isso o que acontece por lá ganha mais visibilidade.
A falta de visibilidade, porém, não faz com que os conflitos que estão em curso acabem. Pelo contrário, eles seguem acontecendo e destruindo cidades, pessoas e cultura. De acordo com o Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados (Acled, sigla em inglês), pelo menos outros 28 países estão em conflito ou registraram algum combate armado em 2022. Enquanto o mundo se volta para a Ucrânia e os países ocidentais enviam ajuda militar para que ela possa se defender, outras soberanias estão lutando sozinhas para não perder o seu território. Três desses conflitos possuem mais de dez anos, como é o caso de Afeganistão, Iêmen e Síria.
Afeganistão
Já são mais de 20 anos de conflito no Afeganistão. A guerra que por muito tempo dominou a mídia, agora foi deixada de lado. A invasão americana no país foi realizada após o ataque de 11 de setembro e tinha como objetivo principal deter o Talebã, o qual o governo dos Estados Unidos alegava ser o principal responsável pelo ataque que aconteceu em seu território. Segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, se não houver uma ação imediata, “enfrentaremos uma crise de fome e desnutrição no Afeganistão”. Desde que o país foi tomado pelos islâmicos talibãs em agosto de 2021, a economia afegã entrou em colapso e mais de 24 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária para sobreviver. O Talibã tomou Cabul em uma ofensiva relâmpago, após a retirada apressada das forças estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos, presentes no país havia duas décadas.
Iêmen
A guerra no Iêmen acontece desde 2011 e ficou conhecida por causa de uma episódio da Primavera Árabe – Revolução Iemenita — que forçou o presidente Ali Abdullah Saleh a deixar o cargo e colocar Abdrabbuh Mansour Hadi, seu vice, no poder. Os Houthis aproveitaram esse momento para tomar o controle da região central ao norte da província de Saada no começo de 2014. Segundo a ONU, o conflito causou centenas de milhares de mortos e levou este pobre país da península Arábica à beira da fome. Estima-se que 5 milhões de iemenitas estão sem ter o que comer, sendo que 2,3 milhões são crianças menores de cinco anos e estão sofrendo desnutrição aguda. Atualmente o conflito está em uma trégua de dois meses, acordada no dia 2 de abril, em virtude de um acordo mediado pela ONU com as forças pró-governo e os rebeldes Huthis.
Síria
Um conflito que já dura mais de dez anos, a guerra na Síria teve início em 2011, quando protestos começaram a ser realizados contra o presidentes Bashar-al-Assad. De acordo com a ONU, já deixou mais de 350 mil mortos e cerca de 200 mil desaparecidos. Recentemente, os sírios se mobilizam para apoiar os ucranianos, compartilhando suas experiências de sobrevivência em bombardeios e ataques químicos e ajudando refugiados após anos de guerra contra as forças russas — que estão presente na região para apoiar Bashar-al-Assad e impedir que a ONU coloque sanções ao mandatário sírio — e o presidente sírio. Algumas regiões do país, como Idlib, têm acordos de cessar-fogo. Entretanto, desde junho de 2021, as forças do governo intensificaram os bombardeios no sul da região.
Existem conflitos que, assim como a guerra da Ucrânia, possuem um período menor de atuação. O conflito no Haiti começou em julho de 2021 quando o presidente Jovenel Moise foi assassinado. Mianmar segue o mesmo curso, e o confronto originado por um golpe de estado, já dura um ano. O mesmo cenário se repete na Etiópia. Já são 16 meses de uma guerra que deixou 900 mil pessoas em situação de fome. Segundo o governo americano, mais de 9 milhões de etíopes precisam de algum tipo de ajuda militar. Desde 2017, quando o Estado Islâmico foi derrotado no Oriente Médio, eles começaram a avançar para a África e tentam dominar algumas regiões, como Moçambique, Somália e Congo.
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